Celulose leva Três Lagoas a ser a ‘capital nacional’ do emprego em 2016
Construção de nova linha de indústria movimentou a construção civil.
Do saldo de 3.569 vagas em 2016, 2.389 foram no segmento, diz Caged.
Um investimento de R$ 7,5 bilhões feito pela indústria de celulose Fibria, para a implantação de uma nova linha de produção, ajudou a cidade de Três Lagoas, na região leste de Mato Grosso do Sul, a 338 quilômetros de Campo Grande, a ser a capital nacional do emprego em 2016.
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a cidade sul-mato-grossense foi o município entre todos os 5.570 do país, que registou o maior saldo de empregos, isto é, diferença entre contratações e demissões com carteira assinada, no ano passado.
Conforme o Caged, o saldo de Três Lagoas no acumulado dos 12 meses de 2016, foi 3.569 postos de trabalho. Desse total, 2.389 vagas foram da construção civil, alavancadas pela expansão da planta de produção de celulose.
A indústria de extração da celulose de fibra curta, a que é utilizada para a produção da papel para a impressão, para escrita e com fins sanitários (higiênico, toalhas de papel e guardanapos) está mudando a história da cidade.
Primeiro com a instalação de duas plantas, a VCP, atual Fibria, em 2009, e a Eldorado em 2013, que geraram emprego, renda e desenvolvimento, transformando a vida de milhares de pessoas no município e no seu entorno. E agora, na contramão da grave crise econômica que o país atravessa, com um investimento bilionário, para a implantação da nova linha de produção.
Segundo a Fibria, a construção da segunda linha de produção da empresa emprega atualmente 8,5 mil trabalhadores, sendo que quase a metade deles (47%) foram contratados em Três Lagoas. A nova linha terá capacidade de produção de 1,9 milhão de toneladas de celulose por ano. Somada à atual, já em operação, a unidade poderá processar 3,2 milhões de toneladas/ano.
A outra fábrica de celulose instalada no município, a Eldorado também está com projeto de expansão em andamento. Segundo a empresa, já foi executada a terraplanagem e o projeto de engenharia da sua segunda linha de processamento. A próxima etapa será o início da construção civil. Conforme a companhia serão investidos R$ 10 bilhões no empreendimento, e a expectativa é que passem pelo canteiro 20 mil trabalhadores, sendo 12 mil na fase mais aguda da construção.
A nova linha terá condições de produzir até 2,3 milhões de toneladas/ano de celulose. Somada a capacidade da linha atual, 1,7 milhão de toneladas, a empresa poderá produzir até 4 milhões de toneladas/ano. A previsão da companhia é que a nova unidade esteja em operação em 2019.
Importância da celulose para o município
Conforme o município, além da geração de empregos diretos e indiretos, o segmento também tem grande importância na arrecadação de impostos e no fomento a toda a cadeia econômica do município.
Uma série de dados da própria prefeitura de Três Lagoas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da secretaria estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico (Semade) atesta a relevância da indústria da celulose para o município e sua contribuição para o crescimento da cidade.
Dados do Cadastro Geral de Empresas do IBGE, por exemplo, apontam que entre 2009 e 2014 o número de trabalhadores assalariados em Três Lagoas aumentou 49,21%, passando de 22,1 mil para 33,1 mil; que o salário médio mensal na mesma comparação teve um incremento de 18,5%, subindo de 2,7 salários mínimos para 3,2 salários mínimos e que o número de empresas atuantes no município cresceu 20,3%, avançando de 2.709 empreendimentos para 3.259.
A maior quantidade de empresas instaladas e de pessoas ocupadas refletiu diretamente na arrecadação de impostos pelo município. De acordo com a prefeitura, entre 2009 e 2014, a receita com o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) teve elevação de 146,9% (de R$ 6,5 milhões para R$ 16 milhões por ano), a do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (Issqn), registrou alta de 127,1% (de R$ 21,8 milhões anuais para R$ 49,5 milhões) enquanto que a arrecadação total de tributos cresceu 107,5% (de R$ 163,9 milhões para R$ 340,2 milhões).
Esse aumento da movimentação de recursos no município impactou também no Produto Interno Bruto (PIB) medido pela Semade, que de 2009 a 2014, teve incremento de 39,2%, passando de R$ 2,826 bilhões para R$ 7,204 bilhões, e no PIB per capta, que passou, neste mesmo intervalo de tempo de R$ 31,5 mil para R$ 64,5 mil, o que representou uma elevação de 48,9%.
Trabalhadores
Entre os trabalhadores que conseguiram empregos com carteira assinada no ano passado na cidade está Alessandro Duarte da Silva. O três-lagoense foi contratado em dezembro do ano passado para trabalhar na área florestal, como mecânico de máquinas florestais.
Ele trabalhava em outra área, mas não via perspectiva de crescimento. “Quando soube da oportunidade de fazer um curso profissionalizante pela Fibria, com o auxílio da bolsa de estudos, pedi demissão, me dediquei aos estudos, não fiquei sem renda e aproveitei essa oportunidade”, disse.
Para Silva, foi uma grande transformação na sua vida profissional. “Tudo mudou. Agora posso fazer carreira, posso pensar em um plano de crescimento profissional e ir atrás dos meus sonhos. Com emprego estável, posso estruturar a minha vida tanto financeira, como profissional”.
Outro profissional que teve a vida transformada em Três Lagoas no ano passado foi o engenheiro florestal Fabiano Lourenço dos Santos, de 34 anos. Ele saiu de Paracatu, Minas Gerais, onde trabalhava há sete anos em uma empresa siderúrgica, por conta de um convite da Eldorado.
“Três Lagoas, por conta do crescimento do setor, da instalação das indústrias de celulose, estava no meu radar desde 2012. Sempre estava acompanhando notícias e informações sobre o crescimento da cidade e desenvolvimento do segmento. Aí, por conta do meu círculo de relacionamentos profissionais acabou surgindo o convite e a oportunidade de vir trabalhar aqui. Em razão do porte e características da empresa, que estava nascendo, mas já com o ‘pé no acelerador’, da chance de participar de todo esse processo e também da perspectiva profissional que se abria, sai da minha zona de conforto e aceitei a proposta”, explica.
O engenheiro florestal comenta que o momento atual da cidade favorece o desenvolvimento, a geração de emprego e o empreendedorismo. “A cidade tem propensão ao desenvolvimento. Muitas pessoas de outros estados estão vindo para cá. É muito comum encontrar pessoas do meu estado de origem e até da minha cidade, o que ajuda na adaptação de quem é de fora. Além do setor florestal, muitos outros segmentos estão crescendo. Uma entidade que oferece um especialização na minha área, por exemplo, mantém um curso de especialização em Araçatuba (SP), a 140 quilômetros de distância, e está abrindo uma turma em Três Lagoas, porque percebeu que existe uma grande demanda. Pessoas daqui que estavam viajando para fazer o curso, agora poderão estudar aqui mesmo”, disse.
Outro lado
Mas se Alessandro e Fabiano representam a mão de obra qualificada que foi contratada no ano passado na cidade, o diretor da agência municipal de empregos, a Casa do Trabalhador, Welton Alves, lembra que a maior parte das vagas abertas em 2016 foi para a área da construção civil, em especial para o canteiro da segunda linha da Fibria.
“É um momento cíclico. Com a expansão da Fibria dispararam as contratações para a construção civil, mas com as obras chegando ao fim, com mais de 70% concluídas, a expectativa é que as empresas terceirizadas contratadas para prestarem serviço no canteiro de obras, comecem a fazer demissões. Esperamos agora que a expansão da Eldorado e a retomada da obra da fabrica de fertilizantes da Petrobras [ainda sem perspectiva] possam movimentar novamente as contratações na área da construção civil”, analisa.
Alves disse que no ano passado, a Casa do Trabalhador atendeu 44,8 mil pessoas. O órgão teve cadastrados 3.104 vagas de emprego neste período, mas conseguiu preencher somente pouco mais da metade, 1.776, ou seja, 57,21%. “Isso ocorreu porque a maior parte dos trabalhadores cadastrados tinha baixa qualificação profissional e procurava emprego somente na construção civil”, comenta.
O diretor diz ainda que o desenvolvimento da indústria da celulose na cidade tem atraído muitas pessoas de outros estados em busca de oportunidades de emprego e estimulado outros segmentos econômicos.
“Das pessoas cadastradas na Casa do Trabalhador, 70% vêm de outros estados, mas a maior parte tem pouca qualificação e busca vagas na construção civil. Como hoje o segmento não está contratando, elas não conseguem uma colocação. Muito acabam indo embora, mas alguns são acolhidos por outras pessoas que já estavam trabalhando na cidade e ficam por algum tempo. Por outro lado, estão sendo abertas também vagas em outros segmentos, como o da indústria têxtil, no comércio e no setor de serviços. Mas todos demandam qualificação do trabalhador”.
Para auxiliar no encaminhamento dos trabalhadores desempregados, Alves revela que o órgão discute parcerias com entidades como o Sebrae/MS e com instituições de ensino privadas, para capacitar essa mão de obra, de modo que possam aumentar a perspectiva profissional. Além disso, mantém um programa de microcrédito, o Banco Cidadão, que faz empréstimos de pequenos valores visando estimular o empreendedorismo e a geração de renda.
fonte: G1