Sem documentos, falso médico pedia para atuar como voluntário em MS

Investigação aponta que suspeito era “muito educado” com pacientes e chegou a fazer curativos. Suspeito prestou depoimento e permaneceu em silêncio durante questionamentos.

As buscas sobre o falso médico, preso em Campo Grande após perseguição policial, resultaram em novas descobertas: o suspeito chegou a atuar em dois locais como voluntário, afirmava ser profissional da saúde e que poderia atender gratuitamente enquanto “agilizava documentação” no Conselho Regional de Medicina (CRM). As informações são de um investigador que esteve nos endereços e conversou com os responsáveis pelos locais.

“A coordenação destes locais o orientava a não preescrever enquanto não apresentasse a documentação, pois não tinha CRM e nenhum outro documento. No entanto, ele fez uma amizade com um rapaz em um abrigo, que é mantido pela prefeitura. Eu conversei com esta pessoa e ele ressaltou que o suspeito era muito educado, bom de papo, chegava no horário e todo mundo gostava dele. Com isso, o suspeito foi autorizado lá a fazer alguns procedimentos como curativos nos adolescentes, expurgos e outras coisas feitas na área da medicina”, explicou o policial.

Nestes locais, ele nunca chegou a prescrever nada e nem atender “clinicamente” ninguém. “Nós acreditamos que ele sabia da sua situação em Paranhos e que estava com a prisão decretada, pois chegava sempre desconfiado. Porém, em momento algum, deixou de exercer a medicina. Estamos agora aguardando possíveis novas vítimas aparecerem, pois o suspeito, conforme depoimento informal da testemunha, confessou que estava exercendo a profissão mesmo sem ter diploma”, comentou o servidor.

A delegada Christiane Grossi, titular da 7ª Delegacia de Polícia e responsável pelas investigações, disse que o suspeito prestou depoimento na quarta-feira e permaneceu em silêncio. A oitiva foi acompanhada pelo seu advogado. Na tarde desta quinta-feira (27), o médico ortopedista que teve o nome utilizado pelo falsário irá prestar depoimento. Ele denunciou Marx formalmente à polícia.

Prisão

A “caçada” por Marx Honorato Ortiz, de 38 anos, teve fim na tarde desta quarta-feira (26), quando ele perseguido por cerca de dez minutos, conforme a polícia. Houve a abordagem e cumprimento do mandado de prisão.

Entenda o caso

No ano de 2014 as buscas pelo suspeito tiveram início por conta da morte de um senhor de 56 anos, em Paranhos, região sudoeste de Mato Grosso do Sul. “Ele estava atuando indevidamente em um hospital da cidade e um dos atendimentos foi deste senhor, em dezembro daquele ano. Na ocasião, a vítima passou mal por três vezes e o falso médico disse que ele poderia voltar para casa”, comentou a delegada.

A filha, em depoimento na delegacia da cidade, falou que o “pai estava vomitando sangue e tinha histórico de pressão alta”. “Mesmo com tudo isso o Marx , se passando por outro médico, cuja identidade vamos preservar, falou que eram somente problemas emocionais e que ele poderia voltar pra casa. Da última vez, a vítima ficou internada, tomou soro e morreu em seguida”, disse a delegada. Indignada com o atendimento, com dez horas de intervalo e três idas ao hospital com o pai, a filha resolveu registrar um boletim de ocorrência por morte a esclarecer.

“A polícia de Paranhos então encontrou o verdadeiro médico e o interrogou, em Campo Grande. Este negou, por duas vezes, tirar qualquer plantão naquele município. Foi aí que o quebra-cabeça de um falsário começou a ser montado”, ressaltou. No mesmo período, o verdadeiro médico registrou uma ocorrência por falsidade ideológica. Houve uma acareação entre o profissional e a filha da vítima que morreu no hospital de Paranhos.

A prisão do suspeito, então, foi decretada no dia 21 de março deste ano e o paradeiro do suspeito apontou que ele estaria em Campo Grande. Com a prisão, o homem permanece na delegacia. Ele tem antecedentes criminais desde 2006 e responderá agora por homicídio doloso, falsidade ideológica, exercício ilegal da profissão e desobediência.

Fonte: G1

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